terça-feira, 21 de outubro de 2008

O surgimento da crise através do Buteco


por Thiago Neves do Vale



O Sr. Manezinho possui um bar onde vende cachaça na caderneta (fiado) aos seus fiéis fregueses, todos manguaceiros e desempregados. Essa venda é realizada a crédito, dando oportunidade do Sr Mane aumentar um pouquinho o preço da dose (a diferença é o sobre preço que os pinguços pagam pelo crédito).

Um ousado gerente de banco decide que as cadernetas das dividas dos pinguços, constituem afinal um ativo interessante, e começa a adiantar dinheiro ao Sr. Manezinho, tendo como garantia a pindura dos cachaceiros que pagam a ele somente no dia 20. (E olhe lá).

Manezinho aceitou o empréstimo de 600 mil reais mesmo sem precisar, pois ele não pode ouvir a palavra crédito. O dono do bar é um consumidor de visão especulativa, e até aquele momento tinha uma vida estável, o bar garantia a tranqüilidade da família.

Com 600 mil na mão e sem saber o que fazer, Sr. Manezinho soube por um amigo que o mercado imobiliário estava valorizando. Era comprar e revender as casas que o lucro era garantido, um ótimo negócio e sem riscos.

Sr. Manezinho comprou três casas somando um valor total de 600 mil. Mas sua brilhante idéia fez com que ele paga-se um valor inicial de 300 mil, ficando o restante dividido em 62 meses para quitar. O dono do bar agora tinha 300 mil, uma divida de mais de 600 mil com o banco e uma gigantesca caderneta com 62 boletos referente às casas.

Mas a situação ainda ficaria pior. Contudo sua mulher se sentindo rica gastou todos os cartões de créditos do marido, fez plástica no nariz, aumentou os seios, comprou carro, encheu a casa de produtos das Casas Bahia, torrou os 300 mil restantes que Sr. Manezinho tinha e ainda deu um pé nele, arrumando um garotão para se divertir em suas noitadas.

O tempo passa e a situação piora de vez. Os bancos iludem milhares de Manezinhos, transformando os empréstimos em títulos negociáveis em mais de 73 bolsas de valores ao redor do mundo. A bolha se forma e a qualquer momento pode explodir.

Lembram daqueles pinguços do começo da história, eles mesmos. Esses pés de cana embriagam-se cada vez mais e decidem não pagar Sr. Manezinho no dia 20. Agora o circo é armado e a crise vem à tona. O dono do “Buteco” deixa de pagar os bancos e o restante das parcelas referente às casas, pensando somente em sua soberania alimentar. Os bancos por sua vez deixam de realizar empréstimos. E sem crédito na praça, o consumidor deixa de consumir e a economia tem sua recessão. O mesmo efeito se segue em diversos países, onde a lógica da auto-regulação dos mercados é o slogan do crescimento.

Então de quem é a culpa, dos Cachaceiros ou dos Manezinhos, que vivem especulando para obter um maior lucro?

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